Distribuição geográfica
O sobreiro espalha-se nos países da bacia ocidental do Mediterrâneo, numa área total superior a 2 milhões de hectares entre as latitudes 33°N e 45°N.
Estima-se áreas consideráveis na península ibérica do sul da Europa (Portugal e Espanha) e nos países do norte de África, Marrocos, Argélia e Tunísia. Os sobreiros também estão presentes na França e na Itália.
O sobreiro é um dos Quercus mais recentes, originários do terciário (Oligoceno-Mioceno).
Figura 1: Distribuição de sobreiros na Espanha e Portugal
Descrição botânica
O sobreiro pertence à ordem de Fagales e à família das Fagaceae. Foi descrito por Linneo em 1753.
Os sobreiros são polimórficos e apresentam diferentes formas botânicas que diferem em características como a forma das árvores, período de floração, forma e tamanho das folhas, flores e frutos. Acredita-se que a espécie contenha mais de 40 variedades que foram agrupadas em quatro: genina, subcrinita, macrocarpa e occidentalis.
Híbridos naturais também ocorrem, nomeadamente Q. ilex e Q. suber, que têm sistemas de reprodução muito semelhantes..
Os altos níveis de diversidade morfológica e fenotípica devem-se em grande parte da hibridização do passado. É encontrada uma grande variação entre árvores da mesma população quanto a diversas características, como na qualidade da cortiça.
Os sobreiros são árvores de baixa dispersão, com caules curtos e ramos grossos. As árvores não atingem alturas superiores a 14–16 m, mas as árvores de crescimento aberto podem ter dimensões de coroa muito grandes (500 m2 de projeção da coroa em algumas árvores antigas de 150–200 anos de idade) e grandes circunferências de caule.
Ao crescer em densas plantações, a forma da árvore é fortemente influenciada pela competição, originando árvores com coroas mais estreitas e caules mais altos. Os slides que seguem mostram exemplos de um sobreiro isolado e de uma floresta densa.
Figura 2: Árvore isolada
Figura 3: Floresta densa
Ecologia
O sobreiro é ecologicamente plástico e cresce em condições úmidas e subúmidas quentes, desde o nível do mar até aos 2000 m, mas com um crescimento ótimo até aos 600 m de altitude.
É considerada uma espécie semi-tolerante, bem adaptada a climas amenos, nomeadamente aos climas mediterrânicos com influência atlântica, com invernos amenos e verões quentes e secos. A espécie apresenta uma alta plasticidade e é capaz de adaptar sua fenologia e atividade fisiológica às mudanças nas condições ambientais, como seca severa no verão e altas temperaturas.
O sobreiro cresce bem com precipitações médias anuais de 600-800 mm, mas ainda sobrevive em anos com precipitação muito baixa (abaixo de 400 mm).
Geralmente, considera-se que a precipitação anual mínima para um desenvolvimento equilibrado de árvores deve ser de 500 mm. O sobreiro admite precipitações mais altas, de até 1700 mm, mas é muito sensível ao acúmulo de água.
No que diz respeito à distribuição sazonal da precipitação, o sobreiro está adaptado ao tipo de clima mediterrânico, com a precipitação concentrada no final do outono e no inverno (outubro-março) e pouquíssimas chuvas de verão.
A temperatura média anual ótima situa-se entre 13 e 16°C, mas o sobreiro sobrevive até aos 19°C.
Figura 4: Folhas do sobreiro
Figura 5: Flores masculinas
Figura 6: Bolotas do sobreiro
Crescimento das árvores
O crescimento radial do sobreiro tem uma clara sazonalidade dentro do ano, com um período de crescimento ativo e um período de dormência.
O crescimento começa geralmente em março e se estende até outubro, com o aumento máximo em junho-julho, enquanto que em agosto normalmente há uma diminuição na taxa de crescimento.
As taxas máximas de condutância estomática e transpiração ocorrem de março a junho.
O crescimento radial anual do sobreiro pode ser dividido em três fases:
- uma fase inicial correspondente ao período da primavera, de março-abril;
- uma fase principal, de maio a agosto, quando a maior parte do incremento de diâmetro é concentrado, correspondendo a 64% do crescimento anual total;
- uma fase final do outono, em setembro-outubro.
Figura 7: Crescimento radial de 50 sobreiros durante um ciclo produtivo (1992-1999)
Figura 8: Crescimento radial mensal de 50 sobreiros durante um ciclo produtivo (1992-1999)
Silvicultura
A maioria dos sobreirais existentes tem origem na regeneração natural pela dispersão de bolotas. A regeneração artificial de povoamentos de sobreiro é relativamente recente e registou um grande incremento nos anos 90, devido à política da UE e aos incentivos para a florestação de terras agrícolas retiradas. Tanto a plantação como a semeadura direta foram utilizadas e muitos milhares de hectares foram estabelecidos com sobreiros em Portugal e Espanha neste período.
A preparação do local inclui preparo do solo, geralmente feita por gradagem de discos, e a melhoria das características do solo para o desenvolvimento do sistema radicular. A preparação do local pode cobrir toda a área ou estar concentrada na linha de plantio. A fertilização NPK inicial geralmente é aplicada em 40 a 100 g por planta.
A mortalidade durante os primeiros anos pode ser muito alta e a planta só é considerada como estabelecida quando tiver mais de 8 a 10 anos de idade.
Extração da cortiça
A extração da cortiça é feita manualmente, cortando grandes tábuas retangulares e puxando-as para fora da árvore. A operação aproveita a fragilidade do felogênio e das novas camadas de células de cortiça para poder arrancar a camada de cortiça da árvore sem danificar a casca interna e o câmbio. Por isso, exige que o sobreiro seja fisiologicamente ativo e é estritamente sazonal (no final da primavera e início do verão).
O uso principal para a matéria prima é a confecção de rolhas. Por conseguinte, é necessária uma espessura suficiente, isto é, as rolhas de cortiça devem ter uma espessura superior a 27 mm e sem defeitos como fraturas profundas.
O processo de extração
No estágio adequado, é fácil separar a camada de cortiça ao nível da zona do felogênio, aplicando uma força de tração moderada na direção radial. Isso é feito depois de cortar a camada de cortiça para poder segurá-la e puxá-la. O momento dessa operação é essencial para garantir que o floema e o câmbio subjacentes não sejam prejudicados.
Portanto, a extração da cortiça é feita apenas durante o período de forte atividade do felogênio, que ocorre em meados de maio até o início de agosto. As variações climáticas determinam o cronograma, ou seja, períodos de frio, períodos de seca ou clima quente podem causar um atraso ou uma antecipação de operações.
Figura 9: Com um machado desenha-se linhas verticais e horizontais
Figura 10: Penetração do machado
Figura 11: O cabo é utilizado como alavanca para separar a prancha
Figura 12: Extração da parte superior
Figura 13: Visão geral de uma operação de decapagem de cortiça
Figura 14: Esquemático da determinação da idade de uma rolha de cortiça
Operações pós-colheita
Após a extração, tradicionalmente, as pranchas de cortiça são dispostas em pilhas no campo para serem coletadas posteriormente. O tempo de estocagem no campo varia de semanas a até um ano, porém, mais recentemente, o processo de estocagem no campo tem sido minimizado.
O alívio estrutural da tensão é feito durante as operações subsequentes de ebulição em água, enquanto a secagem das camadas internas de cortiça já ocorreu no campo juntamente com a oxidação pelo ar dos produtos metabólicos, não esquecendo que estes estão limitados às poucas camadas celulares próximas ao felogênio.
Atualmente, as boas práticas aconselham um período de armazenamento de 6 meses, mas muitas vezes a matéria-prima é processada com armazenamentos mais curtos devido a fatores econômicos e logísticos relacionados com a sazonalidade da produção de cortiça e os custos muito elevados da matéria-prima.
Figura 15: Disposição de pilhas de cortiça
Crescimento e produtividade
O crescimento da cortiça é a produção fisiológica da árvore com maior interesse prático para o produtor e o consumidor industrial da matéria-prima, uma vez que determina a espessura da prancha de cortiça que está disponível para processamento.
Em relação à deposição anual de camadas de cortiça, considera-se que a largura dos anéis de cortiça diminui com a idade do felogênio, mais rapidamente nos primeiros 2-4 anos, e depois mais lentamente até atingir uma taxa de crescimento anual bastante constante após aproximadamente 5 anos.
Figura 16: Crescimento anual da camada de cortiça
PRODUTIVIDADE
Variação da produtividade da cortiça para a amostragem em toda a Europa segundo o estudo Corkassess (2001):
- em Portugal uma média global de 8,3 kg m-2, com médias do local variando de 7,0 a 11,2 kg m-2;
- na Espanha, uma média global de 7,1 kg m-2, com médias do local variando de 5,9 a 9,0 kg m-2;
- na França, uma média geral de 8,7 kg m-2, com médias do local variando de 7,6 a 11,0 kg m-2;
- na Itália, com médias de 7,5 e 7,6 kg m-2.
A sustentabilidade das florestas
Os sobreirais têm uma longa tradição de multifuncionalidade. Eles são sistemas agro-florestais típicos onde a exploração florestal da árvore é associada com pastagem e agricultura. A criação de um habitat para a caça já foi uma das principais funções das antigas terras com sobreiros. O gado, alimentando-se de vegetação natural e de bolotas ou de pastagens melhoradas, foi e continua a ser uma das produções importantes aliadas aos sobreirais. Outros usos baseiam-se na sua rica biodiversidade: apicultura, coleta de cogumelos e plantas aromáticas.
É também dada atenção considerável às funções relacionadas com o ambiente dos sobreirais em termos de proteção contra a erosão do solo pelo vento e água e a desertificação, que é uma grande preocupação na bacia do Mediterrâneo, bem como do apoio dado pelas árvores e arbustos para uma grande biodiversidade animal.
Infelizmente, a regeneração natural é baixa e insuficiente para garantir a sustentabilidade a longo prazo da floresta.
Considerações finais
A exploração do sobreiro para a produção de cortiça é uma prática tradicional.
Apesar de alternativas tecnológicas, o "culto à tradição" do mundo vinícola mantém a demanda por rolhas de cortiça.
Deve-se dar atenção a regeneração dos sobreirais para garantir a sustentabilidade a longo prazo.
Referências
PEREIRA, Helena. Cork: Biology, Production and Uses. Amsterdam; London: Elsevier Science, 2007. 346p.